DESAPARECER | MORRER
Penso várias vezes em desaparecer daqui, mas sei que mesmo o
fizesse, eu iria trazer-me a mim própria comigo. Estou constantemente a querer
mudar de “ares”, toda a minha vida mudei sempre de casa, de escola, de cidade e
até mesmo de país. Mas nunca me senti bem estivesse onde estivesse. Como diz a
música de António Variações: “Estou bem, Aonde não estou, Porque
eu só quero ir, Aonde eu não vou, Porque eu só estou bem, Aonde não estou, Porque eu só
quero ir, Aonde eu não vou, Porque eu só estou bem, Aonde não estou” …
Reparei que não consigo ser feliz em lado nenhum,
ou com pessoa alguma. Não consigo ser feliz. E a razão de não o conseguir é
porque eu não estou bem comigo própria. Odeio a minha pessoa, odeio tudo em
mim. Cada vez que me olho no espelho, tenho vontade de espetar uma faca na cara
e desfigurar-me. Já fiz cortes várias vezes com tesouras, x-atos e vidros, mas
as feridas saram e desaparecem com o tempo. Isto seria uma maneira de me
“arranjar” fisicamente, mas o interior também é podre. Tenho vontade de beber
ácido para poder destruir-me por dentro. Odeio tudo em mim, eu sou um erro. E o
pior é que não tenho vontade alguma de mudar. Não quero mudar porque não quero
ser como todo o mundo. Mesmo se mudasse, eu seria infeliz. Não há qualquer
solução para mim sem ser medicação, internamento talvez. Mas a melhor solução
seria a morte. Desejo todos os dias acordar com alguma doença grave, porque eu
própria sou cobarde o suficiente para não ter coragem de me matar. Mas passo
dias a imaginar a minha morte, o meu funeral… como se fosse mais ou menos um
plano. Já fiz várias pesquisas, já tentei ligar para uma linha de apoio à
prevenção ao suicídio. Ninguém atende. Parece mais um sinal a dizer-me que não
há ajuda, a vida diz-me todos os dias “mata-te”. As pessoas à minha volta iriam
ficar satisfeitas pelo meu “desaparecimento”. Pois tudo o que aqui faço é
destruir. Tenho pena dos meus pais quando olham para mim cheios de amor no
olhar e orgulho na minha pessoa, somente porque sou filha e acreditam no melhor
que há em mim, que é 0. Só que eles não veem isso. Veem apenas uma menina que é
do seu sangue, tenha os defeitos que tiver, irão sempre amar-me, mesmo que
fosse uma assassina. Isto irrita-me. Porque é que não veem o monstro que há em
mim? Porque é que não tenho pessoas à minha volta que me incentivam a matar?
Porque é que há apenas apoios à prevenção? E não ao incentivo?? Porque é que é
assim tão errado uma pessoa matar-se? Mas não é errado matar outros em guerra?
O que a sociedade nos ensina, é que a solução para o mal na vida, é acabando
com ele. Isto é o que quero fazer comigo. Só preciso de ajuda.
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